À consciência da fugacidade do tempo, da transitoriedade de tudo, pode reagir-se de diversas maneiras. A minha pessoal maneira de reagir (e peço perdão dela vir ao caso) é a amarração ao efémero do tempo e do sítio em que, por insondáveis carambolas, me é dado viver. Mas que o efémero que representa o meu aqui-agora e que eu, muito humanamente desejo fixar (com todas as suas – e minhas – contradições, opções, lutas, etc.) tem o seu peculiar «décor», os seus adereços, as suas típicas personagens, a sua acção e os seus dizeres. Se eu não me pormenorizar neles, ao mesmo tempo deles, tomando distância mediante uma operação de sobrevivência chamada ironia, que testemunho darei de mim mesmo (a mim mesmo como consciência angustiada da efemeridade da minha vida ) do tempo-sítio que é o meu para mim?
(...)
Alexandre O'Neill
in Prefácio “Obras Completas de Nicolau Tolentino”
in Prefácio “Obras Completas de Nicolau Tolentino”